BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

DIA 14 DE SETEMBRO DE 2006; NOVO MUNDO, 100º DIA.



DIA 14 DE SETEMBRO DE 2006; NOVO MUNDO, 100º DIA.



O amanhecer parece ter demorado mais para chegar, mas não era para menos. Todos ali estavam ansiosos de alguma forma. Mal saiu a luz do sol e partimos em busca da base que o exército montara. Eu me perguntava por que estes soldados teriam ficado para trás e não foram julgados...


Ou estavam destinados a ajudar as pessoas ou eram tão condenados quanto às criaturas da escuridão. Eu preferia manter estes pensamentos comigo. Os caminhos estavam mais difíceis do que eu imaginava, pois enormes crateras destruíram as estradas que nos levariam mais rápido ao destino. Não restou alternativa além de um caminho através de um túnel. Para que entendam, nesta nova realidade a escuridão tornou-se um dos nossos maiores medos outra vez porque eram nas sombras que habitavam as criaturas... Já entenderam onde quero chegar certo? Um longo túnel subterrâneo não era nossa idéia de caminho seguro.


Pegamos o carro mais forte que pudemos e encaramos o túnel. O mais assustador não foi o túnel afinal... Foi uma barricada que encontramos no caminho. Enquanto Samuel vencia este obstáculo, Percebemos as criaturas... Eram dezenas delas! Nunca vimos tantos deles juntos! Lembraria muito daqueles filmes de Zumbi, onde uma turba perseguia os mocinhos, mas aqui era muito pior...



- Viram o que eles fizeram? Foram eles que armaram aquele bloqueio.







- Você quer dizer que eles estão começando a raciocinar?



O silencio em resposta de Samuel era mais que o suficiente. Se isso fosse um fato, quanto tempo tem até estas coisas virem em número e razoavelmente organizadas? Saímos do túnel e tão logo as tensões começaram a aliviar, a bexiga de Tamara lembrou a ela de ir ao banheiro. Os rapazes logo sugerem que se faça ali no carro, mas ela é uma menina afinal de contas... Paramos e ela foi fazer suas necessidades. Era para ter terminado tudo normal quando tâmara olha para nós e se põe a gritar desesperadamente.


Samuel foi até ela para apanhá-la e nós não sabíamos para onde mirar nossas armas... Até que ela nos mostrou. Havia uma daquelas coisas embaixo do carro! Quando foi que a criatura fez isso? Já não importava. Samuel se joga ao chão e ataca a coisa e a derruba. Foi interessante confirmar a teoria que eles não suportavam a luz do sol. Talvez seja isso que as impeça de terminar de vez com o que resta da humanidade.



Logo chegamos ao local, que não era exatamente o quartel, mas uma mansão tomada pelos caras que havia se tornado o novo lar deles. Parte de meus temores foi embora ao atravessar o portão, mas lembram que mencionei uma sensação ruim? Ela não passava desde ontem, mas novamente me calei. A primeira vista havia apenas militares e o comandante da operação parecia tanto quanto qualquer um que estivesse vivo neste novo mundo. O que me incomodou um pouco foi os olhares em direção a menina... Aquela sensação ruim continuava como um frio na espinha, algo que não me deixava relaxar. Sabiam que as criaturas estavam próximas, tanto que capturaram uma delas.


Os soldados fariam uma reunião em breve e apenas Samuel, Victor e Craig



seriam convidados deixando a mim e Tamara de fora. Obviamente Samuel estranhou esta atitude e eu também! Lá vem aquele firo na espinha de novo! O que apenas homens poderiam discutir sem a presença de mulheres? Eu queria acreditar em razões altruístas, mas vinham apenas maus pensamentos. Peguei tâmara e sentei junto com ela em um dos sofás que havia ali. É lógico que desejava saber o teor da conversa na hora, mas eu descobriria o que era e da pior forma...







A REUNIÃO NA SALA DE JANTAR

Victor, Samuel e Craig se acomodaram em algumas cadeiras sobrando em volta de uma grande mesa. O comandante inicia as deliberações:


Comandante – Bem senhores... Gostaria que todos dessem boas vindas ao senhor Mendonça, ao senhor Victor e ao Senhor Craig. Sejam bem vindos. Chamamos vocês aqui porque apesar do que aconteceu, ainda somos o exército e uma companhia organizada... E precisamos de Contingente.


Samuel – Mas são apenas soldados ou têm sobreviventes?

- Sobreviveram até agora... Prova que podem ser soldados. Estamos a três meses tentando contatos, mas parece que seja lá o que foi que aconteceu, foi no mundo todo. Não temos outra esperança... Apenas sobreviver. Há outros que surgiram assim como vocês... Mas, vocês trouxeram duas mulheres. E isso é muito bom. Vamos precisar delas para seguir a vida.

- Isso eu não posso permitir. Temos que sair daqui, encontrar mais gente. Sabemos que as criaturas não suportam a luz do sol, sabemos que são inteligentes, sabemos que tem medo do fogo e...

- Tudo bem, mas e daí? Eu sei que uma delas está grávida, mas temos todo o tempo do mundo e a outra garota é jovem...

Craig finalmente se manifesta como era de se esperar de um pai indignado:

- Vocês não vão ficar com minha Filha! O que estão pensando?

- Ora homem, pense na realidade!

- Não... Aqui não será o Jardim do Éden.

- E o que será então?

- Sobreviver... Só isso. Somos humanos ainda. Somos homens.

- Sim. E gostaria que continuássemos sendo.

- Não! Essa era já passou.

- Sinto muito... Mas elas ficam.

- Eu acho que não. Laura esta grávida e talvez ela seja a esperança de todo o mundo.

- Eu não sei de onde você veio ou o que tem em mente, mas estamos dando um duro danado aqui para conseguir comida, uma base, luz elétrica, banho quente... Temos tudo o que precisam para uma vida tranqüila. E as mulheres... Vamos precisar delas para repovoar o mundo.

Depois de alguns segundos de silencio, Samuel resolve mudar de assunto:

- Precisamos ir ao Vaticano.

- Você ficou louco homem?

- Não fiquei.

Victor finalmente resolve falar alguma coisa:

- Vocês não têm um avião ou coisa parecida?

- Você quer mesmo arriscar a colocar um avião no ar sem saber se vai poder pousar do outro lado do mundo?

- Não... Mas nós precisamos chegar lá. Pensei que o exército podia ajudar.


- Nós estamos ajudando! Estamos nos protegendo e a todos que sobrevivem. Você é livre para ir embora. Se quiser ficar, fique. Senão pode ir... Mas as mulheres ficam.

- Você esta querendo que a minha esposa fique aqui? É isso?

Sim, ele está falando de Laura... Um blefe é claro, mas se ela soubesse...

- Homem... Ela não é a primeira e não vai ser a ultima a ficar.

- Tem outras mulheres aqui além dela?

É claro que havia mais... Praticamente um harém.

- E quem são elas?

- São mulheres! Qual a diferença?

- Estou procurando por uma... Gabriela Monteiro. Você a viu? É uma delas?

- Sim

- Posso vê-la?

- Porque quer vê-la?

- Sei de coisas que você não acreditaria. Sabe quem é ela? A história dela?

Um soldado resolve tecer um comentário do tipo “Mas ela é muito gostosa”, o que seria equivalente a uma bomba nuclear com Samuel presente. Incrivelmente ele manteve a cabeça fria. Mas isso não ficou barato e nem ficaria se dependesse de Victor:

- Tenha mais respeito por ela.

“Senão o que?” perguntaria o soldado desbocado e louco por uma encrenca que não seria de estranhar que Victor pagasse para ver... Samuel tentou outra abordagem:

- Ela pode conseguir muita coisa para nós. Ela é agente da CIA e...

- Não interessa, pois essa agencia não existe mais... Encare a realidade homem, O exército é a única entidade que pode fazer alguma coisa. Aqui tem nove homens treinados que podem ensinar o que precisam saber. Não há alternativa.

- Bom, e o que acontece agora?

Isso eu posso resumir caros leitores... Laura e Tamara seriam levadas para junto das outras mulheres, onde estariam reduzidas ao papel machista de épocas antigas... Reprodução e diversão... Uma mescla entre prostituta e barriga de aluguel, mas quem paga o preço são as mulheres. Samuel, Victor e Craig ficariam no local se tornando soldados e esperando uma chance de salvar as mulheres e dar o fora. Será mesmo? Com a palavra, Laura Mc Cloud...

ALA DAS MULHERES

Desde que entrei naquela casa, eu me sentia vigiada por todos os lados... Impressão minha talvez? Não! Sentia-me presa ali dentro.


Esperava que os rapazes conversassem e fossemos logo embora. Quando um soldado veio a nós e nos “conduziu” aos nossos aposentos eu já temia pelo pior. Não saí de perto da menina Tamara, como um instinto primitivo de proteção, mas por quê? Ali não é um lugar seguro? Também não acreditava que eles aceitaram ficar por livre e espontânea vontade.

Em algum lugar no andar inferior, fomos levadas a um quarto com varias beliches e um armário ao fundo. Havia outras quatro mulheres La dentro. Idades e tipos diferentes. Perguntava-me se eram esposas, filhas ou mães de alguém naquela casa. Todas as teorias foram pro terra com a ironia daquele homem:

Bom, aí dentro estão as outras mulheres. Vocês podem se conhecer e sejam felizes... Votaremos em breve...

Ele trancou a porta... Não éramos convidadas, éramos prisioneiras! Mas por quê? Muitos pensamentos vieram à mente, mas a maioria terrível demais para pronunciar. Eu agora me abraçava em Tamara pela minha segurança também... Sentir-me confiante entendem? Desço a escada e acabo no porão da casa. Uma morena me chama logo a atenção, pois ela parece ser a mais bonita entre elas. Outra garota mais ou menos da minha idade, Outra que está acima do peso, Outra sem grandes diferenciais... Todas em suas camas. A Mais jovem tenta me dar às boas vindas, mas ela não estava me contando tudo... E tinha medo de me dizer. O capitão viria até aqui me dizer, então esperei... E ele veio com três soldados. Mas onde estava Samuel, Victor e Craig?

Capitão - Moças... Bom elas já devem ter se apresentado... Esta é Gabriela...

Gabriela! Não pode ser aquela Gabriela... Seria muita sorte... Ou azar? O Capitão fez as apresentações e prosseguiu:

- Bom, a partir de agora este é o novo lar de vocês. Esta tudo bem... Poderão ver eles de vez em quando. Eles irão receber treinamento.

Laura - Qual exatamente a natureza de nossas tarefas... Capitão?

- Bom... Devem imaginar que nem todos os homens são bons cozinheiros... E vocês sabem a situação do mundo La fora melhor do que nós... Não sabe?

- Acredite... Sei bem mais do que imagina.

- Ótimo. Então sabe que não nos resta outra opção a não ser nos proteger. E nós estamos aqui protegendo vocês... Pois vocês é o futuro da humanidade. Não se preocupe, Está grávida. Não faremos nada que você não queira.

- Com certeza não...

Um soldado tentou agarrar a Tamara e meu sangue começou a ferver! Puxei-a de volta e ela veio atrás de mim... Externamente eu estava tentando manter alguma serenidade, mas meus olhos faiscavam de raiva quando encarei o maldito tarado...

- Não tem vergonha? É uma criança.

Se ela já menstrua, ela não é mais uma criança para eles.

Se o olhar pudesse matar, todos aqueles desgraçados estariam mortos! Como a humanidade pode ter degenerado a esse ponto? Regredimos para a era medieval! E as mulheres eram apenas diversão e reprodução...


E tenho certeza que a segunda utilidade era a de menos para esse bando de macacos! Filhos eram apenas bônus da rapidinha para descontrair... Levaram a minha mochila e junto um pedaço da minha esperança... Valeria realmente à pena salvar a humanidade? Será que isso não é apenas o fruto do que anos de guerras e maldades plantadas há séculos? Eu já não me importava comigo ou com o mundo... Tudo o que queria... Era ser mãe. Meu filho vai nascer, mas não aqui!

Mais tarde, eles voltaram para concretizar o plano de repovoamento. Meu sangue ainda fervia de ódio como nunca antes tinha acontecido. Ainda me restava à faca escondida em meus trajes e estava muito propensa a utilizar. Olhei para Gabriela e as outras... Só vi conformismo! Eu tinha quase certeza que era a Gabriela de Samuel, mas se fosse não parecia nem metade do que tinha ouvido falar. Acabei por dizer algo que eu ia segurar um pouco mais...

Laura - O que vocês estão fazendo?

Gabriela – Não adianta... Se você não obedecer, você vai apanhar...

- O nome Samuel te diz alguma coisa?

A reação foi imediata... Como era de se esperar de uma esposa preocupada.

- Samuel? Ele esta aqui? Está vivo?

- Sim. Vivo e em algum lugar lá em cima.

Logo fomos interrompidas, pois quatro homens desciam as escadas e Victor estava entre eles... Mas onde estava Samuel? Porque ele não veio? Se ele visse Gabriela ali naquela situação é provável que enlouquecesse. Saberá ele que ela esta aqui? Talvez fosse melhor que não estivesse. Victor pega Tamara para uma cama mais ao canto e logo fico mais aliviada, pois confio em Victor o suficiente para saber que fingiria e deixaria a menina a salvo. Gabriela por outro lado, consegui que retornasse a vida em seus olhos... Quando um dos homens foi nela, não havia mais conformismo... Ela realmente não queria mais. Eu não queria mais, apesar de não ter sido molestada pela minha condição. Agradecerei muito a esta criança que já é uma benção antes mesmo de nascer.

Eu não sabia como estava agüentando tudo aquilo... Aquela barbárie tinha que acabar e estava a um passo de sangrar aqueles porcos, mas eu fixava minha mente em meu bebê... Não podia fazer nada para não prejudicá-lo. A coisa só piorava, pois outro soldado queria a Tamara e Victor não deixava. O resultado era óbvio, mas talvez pudéssemos salvar a menina desta vez. O cara desmascarou o Victor, mas devo reconhecer a coragem dele. Começou a brigar com o homem e logo todos eles estavam em cima dele... Como eu previa. Corri para a porta e comecei a gritar para quem estivesse ali fora que os homens estavam se matando ali dentro e que precisavam fazer algo para evitar que se matassem.

Logo a confusão estava armada e a diversão interrompida! Foi com alívio que eu constatei que as mulheres teriam um momento de descanso aquela noite. Enquanto me deitava na cama, me perguntava se Victor e Samuel estariam bem... E se estariam planejando uma fuga. Além é claro, que estávamos muito melhor com os zumbis La fora... Pelo menos estávamos livres para decidir como morrer.

Os próximos dias seriam a rotina desgastante de uma prisioneira que não cometeu crime algum. Sem dúvida que Gabriela e eu conversaríamos bastante... Uma fuga precisava ser planejada.







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